Mudanças de Planos (Primeiros Capítulos)

St. Louis Mavericks está fazendo a melhor temporada da história do time e a caminho de um grande recorde, mas a morte inesperada do capitão e craque do time os tira do prumo e os deixa desnorteados. Weston Meu mundo mudou drasticamente no dia em que Ben Whitmer morreu. Éramos melhores amigos desde o hóquei júnior. Ele era como um irmão, minha força e voz da razão dentro e fora do gelo. Mas por mais que eu esteja devastado, preciso reunir forças para seguir em frente. Além de manter o time unido, fui nomeado tutor dos dois filhos pequenos de Ben e Lauren, juntamente com a melhor amiga dela, Hadley. Temos a impossível tarefa de decidir qual de nós dois vai criar as crianças. Em hipótese algumas vou deixar aquela pé-no-saco (autoritária) ficar com eles. Estou pronto para a batalha, mas me surpreendo quando conheço melhor a Hadley; ela é mais do que eu pensava. Muito mais. Hadley Não quero ocupar o lugar da minha melhor amiga na vida dos filhos dela. Mas os amo tanto, que farei o que for preciso para criá-los do jeito que os pais queriam. Wes Kirby é um mulherengo detestável, e não vou deixá-lo tirar os filhos de Ben e Lauren de mim. Enquanto descobrimos qual de nós dois é o mais apropriado para criá-los, decidimos morar juntos na casa dos nossos amigos para que as crianças não percam ainda mais estabilidade e o conforto do lar. Juntos aprendemos a ser pais, e a convivência me faz enxergar meu inimigo de uma forma diferente. E, lentamente, Wes se torna algo diferente. Algo mais. E agora, além de me questionar se sou o que as crianças precisam, me questiono também se Wes e eu temos futuro.

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Tradução: Clara Taveira 1ª EDIÇÃO – 2024 RIO DE JANEIRO

PRÓLOGO Hadley Sete anos antes — Você vai amar — disse minha melhor amiga, Lauren, toda empol- gada. — Sério, Hadley, o Wes é um partidão. É bonito, inteligente, engraçado e jogador de hóquei profissional. Se o Ben não fosse o amor da minha vida, eu iria atrás dele. Eu a mirei com desconfiança. — Você sempre diz que os dois são diferentes. Ela acenou com a mão. — Não nas coisas importantes. Pare de ser difícil. Meu ponto é que ele é ótimo, você está na seca e tem um quarto de hotel reservado só para você esta noite. Contive um suspiro. Lauren era minha melhor amiga desde que nos conhe- cemos nas palestras de orientação no nosso primeiro ano na UCLA. Ela era a manteiga de amendoim da minha geleia, e eu faria qualquer coisa por ela. Por isso que eu sorria enquanto ela me conduzia pelo gramado lotado do quintal da casa dos pais dela em Naperville. Eles estavam dando uma festa de noivado para Lauren e Ben, que iam se casar em dois meses. Depois de um rela- cionamento de três anos, com ela estando em Los Angeles, e ele, em Boston, os dois não queriam um noivado longo. Nós nos formamos há algumas semanas, e Lauren estava imersa nos planos do casamento. muito rápido. Há alguns meses, nossas maiores Estava tudo acontecendo preocupações eram passar nas provas finais e encontrar promoções do nosso vinho e pizza congelada favoritos. Agora, Lauren estava se casando e se mudando para MUDANÇA DE PLANOS 5

St. Louis com Ben, onde ele joga hóquei profissionalmente, e eu havia acabado de começar meu novo emprego como redatora para a Willow, uma revista de moda e estilo de vida em Nova York. — Ah! Acho que o encontrei! — Com um gritinho, Lauren segurou minha mão e me levou por entre os grupos de pessoas bebendo e comendo. Meu estômago revirou de nervoso. Eu tinha ouvido Lauren falar sobre Wes Kirby durante os três anos em que ela namorou o Ben. Eu sabia que ele era bonito –tinha visto fotos – e Lauren me garantiu que ele era mais do que apenas isso. Ela estava certa sobre a seca. Já fazia quase um ano desde que eu tinha feito sexo pela última vez, e sete meses desde que fui a um encontro. Eu queria poder atribuir isso ao fato de estar ocupada demais com a faculdade e a formatura, mas a verdade era que simplesmente não tinha conhecido ninguém que eu gostasse muito. Eu estava esperando que Wes e eu tivéssemos uma boa química. Ele seria opadrinho de casamento, e eu, a madrinha de honra. Nós nos veríamos muito naquele fim de semana e no fim de semana do casamento, em agosto. — Droga, Ben o levou para falar com alguém — disse Lauren, gemendo. — Ele sabe que eu quero apresentar vocês dois. — Vamos comer — sugeri. — Eu não comi nada o dia todo e estou mor- rendo de fome. — Ok. Só não suje a blusa. — Lauren me deu um olhar severo, muito fami- liarizada com minha tendência de me sujar um pouquinho de vez em quando. — Eu sempre tento — disse, revirando os olhos. — Mas acontece. — Você precisa de um babador. Dei de ombros. — Não é má ideia. Ela apenas suspirou e passou o braço ao redor dos meus ombros enquanto caminhávamos em direção à fila da comida. — Talvez essa possa ser sua primeira história para a nova revista. — Ela estendeu a mão na nossa frente e traçou uma linha horizontal, imitando uma manchete. — Acessórios essenciais para a mulher que está sempre sujando a camisa. Você poderia incluir babadores fofos, lenços Tide e sacolas grandes o suficiente para guardar camisas extras. — Você é uma idiota — murmurei, rindo. — Mas você me ama mesmo assim. — Amo. — Suspirei e encontrei seu olhar. — O que vou fazer sem você, Lo? Nós somos melhores amigas há quatro anos e colegas de quarto há três. 6 BRENDA ROTHERT & KAT MIZERA

Seus olhos azul-claros se arregalaram enquanto ela me olhava seriamente. — Nada vai impedir que a gente seja melhores amigas, Had. Nada. Mesmo quando eu estiver tendo bebês e você for a editora-executiva da Vogue, ainda conversaremos todos os dias e nos veremos o máximo que for possível. Lauren chegou à frente da fila e pegou um prato, passando-o para mim antes de pegar um para si. — Estou tão feliz que o Ben goste tanto de churrasco quanto eu — disse ela, sorrindo. — Não somos pessoas de costela prime e caviar. Me dá um ham- búrguer e um macarrão com queijo em pó, daqueles laranja da Kraft, e está tudo bem. Nem preciso do tipo sofisticado, com queijo de verdade. Eu ri e respondi: — Lembra daquele dia em que estávamos estudando para as provas finais e não tínhamos comido o dia todo, então fizemos aquele panelão de macarrão com queijo congelado e queimamos a boca na hora de comer? — Ah, merda. — Ela riu. — Aquilo foi horrível. Eu seriamente pensei que nunca mais recuperaria a sensibilidade de algumas partes da língua. — No dia seguinte, assistimos a vários filmes românticos com uma grande tigela de gelo, colocando cubos na língua depois que os antigos derretiam. Lauren encheu seu prato com salada de macarrão e um cheeseburger, e eu fui pegar um cachorro-quente, macarrão com queijo e algumas frutas. Ela era uma daquelas mulheres naturalmente magras – daquelas que vestem P – que continuam esbeltas, não importa o que comam, enquanto eu tinha que me exercitar todos os dias para continuar no M. Lauren foi parada por uma tia e um tio que queriam parabenizá-la, e dez minutos se passaram antes de finalmente nos sentarmos à mesa para comer. Lauren é filha única, mas seus pais tinham vários irmãos, e a família inteira era grande. Eles sempre me incluíam nos encontros em feriados, porque a única família que eu tinha era meu irmão, um SEAL da Marinha que nunca estava no mesmo lugar por muito tempo, e um tio na Flórida. Eu estava tão faminta, que imediatamente enfiei uma colher de macarrão com queijo na boca, seguida pouco depois por uma mordida no meu cachor- ro-quente. Se fôssemos chamadas para tirar fotos novamente, eu queria pelo menos ter comido alguma coisa para não ficar com fome. — Oi, querida — disse uma voz masculina profunda. Eu me virei e vi Ben se aproximando de nós, Wes bem ao lado dele. Merda. MUDANÇA DE PLANOS 7

Ele não poderia ter tido uma primeira impressão menos lisonjeira de mim, com a boca bem aberta. Eu mastiguei o mais rápido que pude, limpei a boca e sorri para Wes enquanto Lauren se levantava para abraçar Ben. — Oi, Wes — disse Lauren, abraçando-o em seguida. Eu passei nervosamente uma mão pelo rosto, rezando para ter tirado todas as migalhas restantes. Meu coração martelava no peito enquanto eu me levantava e encontrava os olhos muito azuis de Wes. Ele era alto, com cabelos escuros, um rosto bonito e um sorriso vindo direto de um comercial de pasta de dente – perfeito e branco como uma pérola. Imagens de nós quatro saindo juntos passaram pela minha cabeça e, obvia- mente, eu estaria sentada em seu colo nesses cenários. — Oi, Hadley — ele disse, sorrindo. — Vejo que você gosta de colocar salsichas na boca. Meu coração afundou, e eu dei um olhar de lado para Lauren. Esse cara tinha muito potencial até abrir a boca. Ele pegou uma batata chips do prato e colocou na boca. Além de batata, seu prato estava carregado com um hambúr- guer, um cachorro-quente e pelo menos um recipiente com todos os acompa- nhamentos servidos no buffet. Era um milagre que a montanha de comida não estivesse caindo pelo chão. — Parece que você também gosta — eu disse, dando a ele um sorriso for- çado enquanto apontava para o prato dele. — É, sim. — Ei, pessoal, precisamos conversar com algumas pessoas — disse Lauren, dando a Ben um olhar conspiratório. — Apenas conversem um pouco, que já voltamos. Eu dei a ela um olhar de “você está de sacanagem comigo” de olhos arrega- lados, mas Lauren me ignorou. Wes se jogou na cadeira e me deu um sorriso malicioso. — E aquela história do padrinho e a madrinha de casamento se pegarem em casamentos? — ele perguntou. — É novidade para mim — eu disse, me concentrando no meu prato e compondo mentalmente o discurso que seria direcionado a Lauren mais tarde por me deixar sozinha com ele. — Quer sair para beber alguma coisa mais tarde, depois que nos liberarem? — Wes perguntou. Eu estreitei os olhos e dei a ele um olhar cético. 8 BRENDA ROTHERT & KAT MIZERA

— Eu acho que já vamos sair para tomar alguma coisa depois do jantar. — Sim, mas quero dizer depois disso… sabe, só você e eu. Eu não suportava homens como ele. Wes não se importava com quem eu era ou o que eu era, ele só queria transar. — Acho que vou ficar bem cansada depois que todos nós sairmos juntos — eu disse. — Cansada? — Ele riu. — Acho que você precisa se soltar um pouco. — Estou bem. Ele balançou a cabeça como se não conseguisse entender por que eu o rejeitei e suspirou fundo. — Qual é, Hadley? Nós dois estamos solteiros, então vamos aproveitar um pouco. Dê uma chance, você pode até acabar gostando de mim. Eu ri, sem graça. — Você nem me conhece. — Eu sei o suficiente sobre você. Revirei os olhos. — Eu tenho muito respeito próprio para o seu gosto, confie em mim. — O que isso quer dizer? — Isso significa que eu não tenho interesse em fazer sexo com você. Ele levantou as mãos, em um gesto de falsa rendição. — Ei, eu não estava sugerindo isso. Nós todos vamos sair hoje à noite. Eu só pensei que você e eu poderíamos passar um tempo juntos depois. — Sim, já bêbados — eu disse sarcasticamente. — Não há nada de errado em se divertir um pouco. — Você parece o tipo de cara que gosta de se divertir com uma mulher diferente todas as noites. Ele deu de ombros e olhou para baixo, para sua mão esquerda; em seguida, mirou meus olhos. — Para mim, o dedo anelar parece vazio. — Ah, você ainda mora em uma fraternidade? — Eu moraria se pudesse. — Vivendo na sujeira, festejando todas as noites e sendo irresponsável. Aposto que você ama isso. Ele sorriu. — Você também amaria se relaxasse um pouco. Fiquei ofendida. MUDANÇA DE PLANOS 9

— Relaxasse? Você está falando sério? — Acho que vou gostar mais de você quando tiver uma salsicha na boca, só isso. — Como você e Ben podem ser amigos? — Como você e Lauren podem ser amigas? Ela é uma das garotas mais doces e legais que já conheci. — Mulher, na verdade. Wes se contorce. — Tanto faz. Você é uma daquelas pessoas que corrigem a fala de todo mundo, não é? E coloca em ordem alfabética as coisas. Seus temperos são orga- nizados em ordem alfabética? Minhas bochechas aqueceram, porque, sim, meu armário de temperos estava em ordem alfabética, mas eu não daria a ele a satisfação de admitir. — Claramente não somos compatíveis — eu disse. — Sim, claramente. — Ele arregalou os olhos e deu uma mordida no hambúrguer. — E aí, pessoal? Como vão as coisas? — Ben perguntou enquanto se apro- ximava junto de Lauren. — Fantásticas — Wes disse sarcasticamente e se levantou. Lauren me deu um olhar de simpatia, e Ben limpou a garganta, pare- cendo envergonhado. — Bem, talvez vocês tenham começado com o pé esquerdo — ele disse diplomaticamente. — Vamos tentar de novo hoje à noite. — Passo — eu disse, balançando a cabeça e me levantando da cadeira. — Wes pode ter mais sorte enganando calouras universitárias. Acho que sou um pouco velha demais para ele, intelectualmente falando. — Chata do caralho — Wes murmurou. — Babaca — eu retruquei, me aproximando um passo dele. — Por que você não vai colocar um rótulo em alguma coisa? Ou passar suas roupas de trabalho? — Vá se divertir com sua mão, garoto de fraternidade. — Ok, pessoal. — Lauren deu um passo à frente e parou entre nós. — Vamos seguir caminhos separados e não transformar a festa de noivado dos nossos melhores amigos em uma cena de Jerry Springer, ok? Eu assenti, imediatamente arrependida por agir como uma criança. Não havia ninguém por perto, mas ainda assim. Aquele dia era de Lauren e Ben. 10 BRENDA ROTHERT & KAT MIZERA

— Desculpa, pessoal — eu disse com a voz calma. — Sim, desculpa — Wes também disse. — Vou… — Ele apontou para o outro lado do quintal. — Eu vou com você — Ben disse. Lauren colocou um braço em volta de mim assim que eles saíram. — Hadley, sinto muito. Nunca teria tentado juntar vocês se eu soubesse que seria desse jeito. — Eu sei. Eu só não consigo entender por que Ben é amigo dele. Ele é insuportável. — Por quê? O que aconteceu? Ele costuma ser um cara legal. — Seus olhos estavam cheios de preocupação. — Quer saber? — Eu forcei um sorriso. — Não importa. É a sua festa de noivado e podemos falar sobre isso em outro momento. — Sim, mas e quanto a esta noite? Você acha que talvez possa… ignorá-lo? — Absolutamente. Ela parecia aliviada. — Ótimo. Porque você é nossa madrinha de honra e ele é nosso padrinho. Você terá que encontrá-lo para as coisas do casamento. E depois também, talvez durante feriados e chás de bebê e coisa e tal. Eu dei um olhar sério para minha melhor amiga. — Não se preocupe, Lo. Eu não planejo falar com o Wes novamente. Ela mordeu o lábio e me deu um olhar incerto. — O que foi? — eu perguntei a ela. — Eu não queria dizer nada, mas… você derramou molho na camisa. — O quê? — Eu olhei para baixo e vi uma mancha de molho de queijo amarelo na minha camisa rosa-clara, um único macarrão ainda preso no tecido. Perfeito. Wes devia estar rindo por dentro enquanto eu agia toda indignada com ele tendo comida grudada na camisa. — Merda — sussurrei. — Tudo bem — disse Lauren. — Eu tenho roupas extras em casa. Vamos procurar algo para você vestir. Eu a segui para a casa dos pais dela, mantendo meu olhar na sua nuca. Não só eu não planejava falar com Wes novamente, como também planejava sequer olhar para ele. Que babaca. Nada mudaria o que eu sentia por ele – não só naquela noite, mas nunca. MUDANÇA DE PLANOS 11

CAPÍTULO 1 Wes Dias atuais — Wes… mais! — A morena alta, cujo nome eu não conseguia lembrar, estava enfiando a língua na minha boca enquanto eu deslizava minhas mãos sob sua saia preta curta. Ela estava se esfregando no meu colo, seus longos cabelos espalhados por todo o meu peito enquanto nos beijávamos. — Por favor, Wes, eu preciso de você dentro de mim. — Calma, boneca. Temos a noite toda. Eu a beijei de novo, tentando lembrar se eu tinha uma camisinha na carteira, porque deixei a carteira e o celular no aparador quando chegamos na casa dela. Então, em algum lugar ao longe, ouvi meu celular tocando We Are The Champions, do Queen, e a gostosa em meu colo se afastou momentaneamente. — Você precisa atender? — Não. Quem diabos poderia estar me ligando à meia-noite de uma terça-feira? Em algum lugar no fundo da minha mente, me ocorreu que poderia ser importante – por que outra razão alguém me ligaria naquele horário? As coisas estavam esquentando de novo quando meu telefone tocou pela segunda vez, mas eu apenas puxei sua blusa, tirando-a sobre sua cabeça para que pudéssemos continuar nos beijando. Ela tinha um corpo fantástico, um que eu imaginei em ver nu por várias horas, e estava começando a me irritar que o telefone continuasse tocando. 12 BRENDA ROTHERT & KAT MIZERA

Então, quando ouvi o refrão de We Are The Champions pela terceira vez em poucos minutos, soltei uma bufada de impaciência quando ela olhou para mim com os olhos semicerrados. — Talvez seja importante, não? — ela perguntou baixinho. — Porra. — Eu gentilmente a empurrei do meu colo e me levantei, atra- vessando a sala para pegar meu telefone. Não reconheci o número, mas atendi mesmo assim. — Sim, é o Wes. — Sr. Kirby? — A voz feminina do outro lado parecia jovem. — Sim, hm, quem está falando? — Bati o pé no chão com impaciência. — M-meu n-nome é… Britney. Eu sou, hum… — Ela fungou. — Eu sou, ahn, eu sou a b-babá do Ben e da Lauren. A babá de Ben e Lauren estava chorando? E mais, por que ela estava me ligando? Eu estava muito confuso. — As crianças estão bem? Onde estão Ben e Lauren? Ela se desfez em lágrimas. — Não sei! Por favor, você pode vir aqui? A polícia está aqui e me disseram para ligar para você se não conseguisse encontrá-los, e agora não sei o que fazer e… Ela chorava tanto, que eu mal conseguia entender o que estava dizendo. — A polícia está aí? — Eu já estava fechando meu jeans e tateando em busca das minhas chaves. — Ok, estou a caminho. Não faça nada até eu chegar. Desliguei e me virei para a linda mulher que abandonei no sofá. — Sinto muito, não sei o que está acontecendo. A polícia está na casa dos meus amigos, e a babá está enlouquecendo. Ela parecia um pouco desconfiada. — Sabe, se você não gostou de mim, não precisava que um de seus amigos ligasse desse jeito. Eu fiz uma careta. — Querida, se eu não tivesse gostado de você, não estaria aqui. Desculpa, eu realmente tenho que ir. - Corri pelo corredor até as escadas da saída de emergência e desci até o esta cionamento. Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas meu melhor amigo, Ben, e sua esposa, Lauren, me tinham como contato de emergência para eles e para os filhos. Algo estava errado. Hoje era noite de encontro, de acordo com Ben. Ele e Lauren tentavam passar uma noite longe de Annalise, de três anos, e Benny, de seis meses, uma MUDANÇA DE PLANOS 13

vez por mês. Supondo que o time de hóquei profissional em que jogamos, o St. Louis Mavericks, estivesse na cidade e tivéssemos uma folga. Não tivemos muitas delas durante a temporada, então foi por isso que ele se esforçou para arranjar tempo para a esposa. Eles eram provavelmente minhas duas pessoas favoritas no mundo. Ben e eu jogamos pelos Mavericks, mas nossa amizade remonta ao hóquei juvenil. Nós éramos amigos desde os quatorze anos, e quando ele se apaixonou pela inteligente e atrevida Lauren, eu meio que me apaixonei por ela também. Fui padrinho dos filhos deles e passamos muito tempo juntos, no gelo e fora dele. Portanto, era impossível que eu não respondesse se eles – ou a babá deles – ligassem. * A essa hora da noite, levei apenas doze minutos para chegar ao condomí- nio fechado e digitei o código do portão, que eu sabia já que era um visitante bastante regular. Havia uma viatura estacionada na frente da casa, e isso me assustou mais do que o telefonema de Britney. Saí do meu SUV e corri para a porta da frente, batendo rapidamente. Um oficial uniformizado abriu a porta e encontrou meu olhar interrogativo. — Senhor… Kirby? — Sim. Eu sou Wes Kirby. O que está acontecendo? Outro policial veio até a porta, e os dois olharam para mim. Senti algo ruim se contorcendo em meu peito, um pressentimento, e eu mirei seus olhos diretamente. — O que está acontecendo? As crianças estão bem? Onde estão Ben e Lauren? — Houve um acidente de carro — o policial disse calmamente. — O senhor Whitmer morreu na hora e a senhora Whitmer morreu a caminho do hospital. — O quê? — Eu os encarei. — Não. Deve ser um erro. — Senhor Kirby? — Britney veio até a porta, seus olhos vermelhos e incha- dos. — É verdade? Vendo a garota de perto, lembrei de tê-la visto algumas vezes. Ela era uma estudante do ensino médio que morava na esquina, e as crianças a amavam. Ela ajudava Lauren às vezes quando estávamos na estrada, para que ela pudesse ter um pouco de tempo para si mesma. — Ainda não sei de nada, querida. — Passei a mão pelo cabelo. — As crian- ças estão dormindo? 14 BRENDA ROTHERT & KAT MIZERA

Ela assentiu. — Você precisa ligar para seus pais? — Eu já liguei. Um momento depois, um lustroso Mercedes preto parou na garagem, e um casal que parecia estar na casa dos quarenta saiu do carro. A mulher correu na frente, seus olhos encontrando os meus, alarmados. — O que aconteceu? Onde estão Ben e Lauren? O que está acontecendo? — Não sei. — Eu estava tentando respirar, tentando manter a calma, por- que não parecia real. Tinha de haver um engano. — Senhores, o que está acontecendo aqui? — O pai de Britney estava ten- tando bancar o durão com os policiais, como se isso fosse nos dar alguma resposta. — Onde eles estão? — eu interrompi. — Eles estão no County General — respondeu o segundo oficial. — Mas… — Eu preciso ir até lá. — Eu me virei para a mãe de Britney. — Eu odeio ter de pedir isso, mas você poderia ficar aqui com Britney e as crianças para que eu possa descobrir o que diabos está acontecendo? — Claro, vá. — Ela concordou com a cabeça e então apertou os olhos um pouco. — Você é amigo de Ben. Wes, certo? — Sim. — Eu encontrei seu olhar interrogativo. — Lauren falava de você com frequência. Eu não sabia o que dizer sobre isso, então simplesmente balancei a cabeça, me virei e corri de volta para o meu SUV. * Liguei para o celular de Ben no caminho para o hospital, mas foi direto para a caixa postal. — Ei, aqui é o Ben. Deixe um recado. Se for você, Lauren, eu te amo. MERDA. Isso não poderia estar acontecendo. Não podia ser verdade. Eu me recusei a acreditar até ver com meus próprios olhos. Impulsivamente, tentei o número de Lauren em seguida, mas também foi direto para o correio de voz. — Ei, é Lauren. Você sabe o que fazer depois do bipe. Se for você, Ben, não vou atender porque estou ocupada com seus filhos. Mas eu te amo mesmo assim. Deus, esses dois. MUDANÇA DE PLANOS 15

Meu coração estava praticamente na garganta, e eu estava com aquela sen- sação ruim de novo. Não conseguia nem imaginar a ideia de que algo tivesse acontecido com eles. Num impulso, liguei para nosso amigo e companheiro de equipe, Nash Reilly. — Você tem dimensão que passa de uma hora da manhã e… Eu o interrompi. — Ben e Lauren sofreram um acidente de carro. Estou a caminho do County General. Pode me encontrar lá? — Jesus, eles estão bem? — Eu acho que deu ruim, Riles. — Estou a caminho. — Ele desligou, e meus dedos ficaram brancos enquanto eu segurava o volante, virando para a entrada principal do hospital. Estacionei em um local fora da área de emergência e entrei. Havia uma enfermeira de aparência cansada na recepção, e eu a abor- dei rapidamente. — Com licença. Estou procurando por Ben e Lauren Whitmer. A enfermeira franziu a testa. — Acho que não temos ninguém com esse nome… — Sua voz foi sumindo enquanto digitava algo no computador. Então sua expressão mudou um pouco. — Oh. Me desculpe, como você se chama? — Eu sou… um amigo da família. A polícia foi até a casa para nos dizer que houve um acidente. — Encontrei seu olhar, perdendo a esperança a cada segundo enquanto observava as emoções em seu rosto. — Você tem alguma informação que possa me contar? — Receio que só posso falar com a família ou… — Está tudo bem, Jan. — Um dos policiais que estavam na casa obvia- mente havia me seguido até o hospital. Ele colocou a mão no meu ombro e me afastou alguns metros da área da recepção. — Senhor… Kirby, seu amigo e a esposa não sobreviveram ao acidente. Eu sinto muito. — Você não pode… — Minha voz falhou, e eu engoli em seco. Havia algo causando ardência em meus olhos, e eu fiquei imóvel, congelado no mesmo lugar. — Tem certeza? — eu finalmente sussurrei. — Sentimos muito, sr. Kirby. Você sabe quem podemos chamar para cui- dar de tudo? Existe algum familiar? Teremos que chamar os assistentes sociais para as crianças, a menos quê… 16 BRENDA ROTHERT & KAT MIZERA

— Não, eu cuido, eu cuido… eu sou o padrinho deles. Eu vou voltar para lá hoje à noite. Eu só… posso vê-los? — Eu não tenho certeza se é possível. Vou descobrir. O policial voltou para a recepção enquanto eu permanecia sem me mover. Não era real. Não poderia ser. Eu não acreditei. Não pude acreditar. — Wes! — Nash entrou alguns segundos depois, e no instante em que me viu, seu passo vacilou. — Wes? — Eles partiram, Riles. — Eu não conseguia nem olhar para ele. — Jesus, não. — Ele parou a uns trinta centímetros de distância de mim. — Tem certeza? — Eu, uh, sim, acho que sim. — Olhei para cima, quando o policial se aproximou de mim. — Você gostaria de ver seus amigos? A enfermeira Jan disse que podemos deixar você entrar bem rápido. — Eu… — Minha voz falhou. Eu nunca tinha visto um cadáver. Não de perto, e definitivamente não um que fosse o meu melhor amigo. — Depois que eles os levarem para o necrotério, você não poderá ir até lá — ele disse gentilmente. — Sim. Eu sei. Meus pés pareciam enormes blocos de concreto enquanto eu seguia a enfermeira por um corredor indefinido. Passamos por todos os quartos regula- res e chegamos a um isolado nos fundos. A enfermeira abriu a porta, e eu me preparei antes de entrar. — Não. — Minha respiração escapou apressada, e eu caí contra a parede. — Puta merda, não. — Fechei os olhos com força e lutei contra a umidade acumulada, mas não adiantou. Ben e Lauren se foram. Ben. Meu melhor amigo. Meu irmão. Nosso capitão. O yin do meu yang por quinze anos. — NÃO!!! — a palavra saiu do meu peito com um rugido gutural, e eu me agachei porque não tinha mais forças para ficar de pé. Eu abaixei a cabeça, uma dor diferente de tudo que eu já senti parecia me rasgar no meio. Isso não poderia ser real. Não poderia estar acontecendo. Mas estava. Ben e Lauren se foram, e eu não tinha uma porra de ideia de como iria superar isso. MUDANÇA DE PLANOS 17