Voltamos ao vosso contacto com a VIII Edição do Festival Mental, que desde há anos vem contribuindo de forma excecional para os propósitos que também defendemos para a saúde mental dos nossos concidadãos. É à Ana Pinto Coelho e ao João Gata, nas suas múltiplas vertentes de inspiradores, operacionais, executantes e divulgadores que devemos, enquanto cidadãos, todas as experiências e (surpresas) que só um evento com estas características consegue transmitir, ano após ano. Não posso deixar de alargar os agradecimentos a todos os que trabalham juntamente com eles: atrás de uma grande mulher está um grande homem, e atrás dos dois (ou ao lado...) está sem dúvida uma grande equipa, a que enquanto Coordenador Nacional quero agradecer reconhecidamente. Sem todos vocês, não existia este Festival. Passado um ano, o que mudou no mundo e na sociedade? Em boa verdade, não se pode dizer que o contexto que estamos a viver em 2024 seja substancialmente mais favorável que o de 2023: quando no edital anterior me referia aos impactos das novas realidades da guerra na Europa, da crise climática, dos refugiados, a diferença mais signi昀椀cativa em 2024 parece ser a emergência de uma nova guerra no Médio Oriente, mais uma vez com riscos potenciais que não se restringem às geogra昀椀as locais. Socialmente, assistimos em toda a Europa a um crescimento de perspetivas com um cariz claramente mais populista, com uma visão da sociedade e do desígnio dos países bastante diferente do que aquilo que se veri昀椀cou na Europa durante as últimas duas décadas. Temos tanto o dever de aceitar democraticamente as escolhas dos povos, como o direito, simultâneo, de antecipar os efeitos, expectáveis ou não, destas mudanças. De uma forma ou de outra, as modi昀椀cações do contexto acabam por ter um enorme impacto na saúde mental das populações, através da sua ação direta nos determinantes de saúde: como se sabe desde há muito tempo, os problemas de saúde mental decorrem de uma interação entre as características biológicas e de personalidade do indivíduo, com as variáveis sociais que o rodeiam em cada momento. É por este motivo que abordar a saúde mental apenas numa lógica de prestação de cuidados acaba por ser uma falácia: os determinantes de saúde são tão vastos e atravessam tantas dimensões da nossa vida, que a parcela dos cuidados e tratamentos é apenas uma pequena parte de toda esta área. Daqui decorre algo que é expectável: de um conjunto tão díspar de dimensões, com tantos determinantes simultaneamente envolvidos (educação, trabalho, segurança social, urbanismo, habitação, justiça), nascem di昀椀culdades e problemas também muito diversos, a exigir respostas igualmente diversas. Cabe à sociedade reconhecer este efeito, e procurar promover as respostas mais adequadas às necessidades colocadas pelas pessoas em sofrimento. Eventos como o Festival Mental são uma das respostas mais importantes nesta tarefa interminável de melhorar a saúde mental das pessoas. Assumindo-se como um agente ativo nesta tarefa, o Festival Mental permite que, num espaço e num tempo próprios, possamos contactar de forma criativa com uma realidade que nem sempre é visível, mas que existe, dentro de qualquer um de nós. Fá-lo de uma forma muito criativa, mas sempre com critério. Transmitindo vivências individuais, mas que nos atingem empaticamente. Respeitando sem cedências a diferença e o direito a optar. Colocando a defesa dos direitos humanos em primeiro lugar, sempre. A história mostra-nos que saúde mental não muda a partir das instituições, muda sempre a partir de fora. Conseguir alertar e sensibilizar a sociedade para esta questão é algo que teremos sempre de agradecer a todos os que fazem este Festival. A Coordenação Nacional das Políticas de Saúde Mental associa-se mais uma vez a esta organização, na qual estamos bem acompanhados por um júri excelente, pela autarquia, e por todos os parceiros que apoiam esta iniciativa. Uma coisas sabemos bem: nunca poderemos retribuir de igual forma tudo aquilo que temos recebido da Ana, do João e da equipa do Mental. Miguel Xavier 07
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