ou mesmo à porta da frente, eu teria de me espremer por caminhos estreitos e subir sobre pilhas de caixas e tralhas que cobrem o chão. A cozinha e o banheiro estão tão imundos e abarrotados, que parei de usá-los há dois anos. Até mesmo o velho trailer está cheio até o topo com roupas velhas, cobertores, plantas falsas, decorações natalinas – o que der para imaginar. Minhas esperanças de me mudar para ele quando ficou vazio foram frustradas quando ela o encheu menos de um mês depois que meu pai saiu. Minha mãe é uma acumuladora. Fui forçada a me refugiar no meu quarto, incapaz de usar o banheiro e a água corrente como uma pessoa normal. Há provavelmente duzentos frascos de xampu, condicionador e sabonete líquido lá fora entre as pilhas caóticas, mas se eu tentar pegar algum, minha mãe terá um ataque. Eu tenho de manter a porta do meu quarto trancada o tempo todo, porque é um espaço valioso aos olhos dela. Um espaço de doze por quatorze para ela preencher com milhares de itens de loja de um dólar, estátuas de animais em tamanho real, esteiras ou casacos de pele falsa. Ela nunca usa nenhuma das coisas que compra. Elas são adicionadas ao museu de seus pertences. Mas, de alguma forma, tudo isso dá a ela um tipo de satisfação que eu literalmente nunca, nunca vou entender. Meu pai morou no trailer por quase quatro anos, incapaz de lidar com tudo isso. Então, um dia, ele se foi, me deixando com um bilhete de desculpas e a realidade de que fiquei sozinha para me defender na selva desta casa. Ele tentou conversar com ela muitas vezes ao longo dos anos, para levá-la a procurar ajuda, mas minha mãe se recusou. Eu fiz o mesmo, mas ela não me ouve. Se desliga e se fecha. Agora, mal fala comigo. Como ela poderia quando temos que percorrer montanhas de lixo para estar fisicamente no mesmo espaço? Em vez disso, eu tenho que ligar ou enviar uma mensagem de texto para ela para me comunicar. Eu costumava me perguntar se ela se importava com o que isso estava fazendo comigo. Se ela se preocupava comigo subindo pelas janelas, usando um balde como vaso sanitário e me escondendo no meu quarto com meu gato. Não adianta ficar imaginando porque eu já sei as respostas. Fecho a porta e tranco-a novamente com um suspiro de alívio. Eu conse- gui criar meu próprio pequeno mundo seguro aqui com a Fluffle-Up-A-Gus. Temos tudo o que precisamos para sobreviver. É quase como se o pesadelo do outro lado da porta não existisse. Mas também está lentamente começando a parecer que eu também não existo. NÃO BEIJE A NOIVA 15 [miolo] Não beije a noiva.indd 15[miolo] Não beije a noiva.indd 15 18/06/2024 12:08:0418/06/2024 12:08:04

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