108 perfurando o racionalismo enxuto, que eu, cado racionalmente. caro leitor, assumo abraçar. Eu não discordaria! Então pensa agora o Porque as pessoas dançam? Achegamo- leitor ser estas poucas nos por entre a multidão, sob os berros de linhas perca de valo- um intrépido mancebo, brincalhão da sorte, roso tempo, mas ouso que vociferava números ao microfone. Assisti pedir certo frio de âni- assoberbada os ricochetearem de corpos las- mo. Envoltos estavam civos, vacilantes rodopiadores pelo som de meus pensamentos extremo mau gosto. Observei cada atitude nestas vistas. Cogitei exagerada, cada levantar de vestes. Surpre- ser impulso corpori- endi a mim mesmo num sacolejar involuntá- 昀椀cado das sinapses rio e tímido de pernas, e parei constrangido. nervosas, relaxamen- Sorri dissimulado, aparentando um controle to muscular involun- que eu perdera no vislumbrar. tário, ou pura insani- dade. Fitei a quadrilha Meus companheiros - uma velha amiga e aberta, num 昀氀amejar seu acompanhante - enamoravam-se delicio- de braços, babados samente, podendo meus inquirismos, assim, e cores gritantes, pro- elevarem-se calmos ao ambiente. Mordi de curando algum sinal lábios, assumo meu paciente leitor! Conside- de resposta, até que, ro-me irremediável conservador, mesmo sob sob a modorra dos as duras invectivas dos mais queridos eu não céticos, percebera eu mudava. O que eu poderia fazer? este outro olhar. Aquele roçar de peito nos seios sinuosos, Uma molecota quase à mostra enervou-me. Os lábios ma- faceira, morena de cilentos tocavam vertiginosamente a outra cenho enfeitado de boca, mas sendo os olhos meros escravos brilhos e purpurina, das polpas carnudas, sabendo eu que ele as arfava sob um ves- queria tocar. Os braços mais fortes enrola- tido espalhafatoso. vam-se no corpo 昀椀no, e os quadris de ambos Contive um riso de- giravam colados ao som frenético de algum savergonhado, ven- estilo popular. do-a esfregar seu colo no peito de um Descobri, pois, naquele momento porque enorme dançarino. Desvendei, pois, ali mi- as pessoas dançavam. nha pergunta. Porque as pessoas dançam? Pura satisfação! Existia um ardor momentâ- Os sapientes estudiosos, analíticos de neo, embalado por determinada melodia, umas vozes cientí昀椀cas, diriam ser minha dú- que elevava o espírito dos humanos. Uma vida puro blasé. Para estes, certamente o de- tenra linha entre a sexualidade e a selva- sejo impetuoso pela dança poderia ser expli- geria. Por quê? Veja leitor, quando estiver Rev. do Trib. Reg. Trab. 10ª Região, Brasília, v. 20, n. 2, 2016
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