58 subjetivação das relações dentro do ambien- Que tempos são esses? Martins (2012), par- te organizacional, a atribuição de sentido ao tindo-se de uma temporalidade socialmente trabalho, a inserção do trabalhador no am- instituída, aponta três quali昀椀cativos que des- biente produtivo e sua realidade pessoal e, crevem com propriedade a sociedade atual: ainda, a análise dos modos de pensar, sentir hiperconsumista, líquida e apressada (referin- e agir, individuais ou coletivos, relacionados do-se aos conceitos trazidos por Lipovestsky, ao trabalho. (MENDES, 2007). Bauman e Beriaín, respectivamente). As re昀氀exões sobre saúde mental no tra- Uma sociedade balho devem partir dessas perspectivas, em que impera o hi- considerando os sujeitos envolvidos, o perconsumo, que é modo como se relacionam, os processos essencialmente sub- de gestão do trabalho etc. jetivo e emocional, em que a pessoa de- A ‘LOUCURA’ DOS TEMPOS MODERNOS seja objetos como condição para viver O termo loucura vagueou pela história e dar razão à vida, e humana e assumiu nuances e sentidos dos não por sua utilidade mais variados possíveis, como se percebe ou necessidade. Um na narrativa feita por Foucault (1978). Na consumo emocional, contemporaneidade, há duas linhas teóri- dominado pela busca cas que buscam compreender a loucura: a das felicidades priva- concepção organicista (loucura como do- das, com uma nova ença denominada esquizofrenia, diagnosti- relação emocional do cada e tratada pela psiquiatria) e uma visão consumidor com as psicofuncional (loucura como fenômeno mercadorias (LIPOVET- psicológico e cultural). (FRAYZE-PEREIRA, SKY, 2007). 1982). Um tempo mo- O presente estudo pretende invocar ou- derno marcado pela tra acepção de loucura, como estilos de 昀氀uidez, pela liquidez, vida e trabalho que fogem do razoável, do pela propensão e ap- tolerável, que conduzem o indivíduo a um tidão para a mudan- desequilíbrio: a loucura dos tempos moder- ça. Uma mudança contínua e constante. Um nos. Uma loucura que não envolve, neces- tempo que “escorre”, “vaza”, “esvai”, e no sariamente, um adoecimento mental, mas qual o poder tem a liberdade de 昀氀uir, livre de que pode levar a este. Uma loucura que barreiras, fronteiras ou de laços sociais den- imprime, no sentimento coletivo, a sensa- sos. (BAUMAN, 2001). ção de perda de controle. Uma loucura que acarreta sofrimento psíquico e que, por isso, Pressa. Uma sociedade marcada pela pres- impede a plenitude do bem-estar mental e sa, numa arritmia ditada pela busca de mais psicológico do indivíduo. e mais atividades. Uma aceleração social que Rev. do Trib. Reg. Trab. 10ª Região, Brasília, v. 20, n. 2, 2016
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